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Infâmia (1960): O verdadeiro vilão é o Preconceito

Com spoleirs
A maioria dos filmes que eu vejo são indicações ou os mais famosinhos mesmo, porém foi quando eu procurava filmes com a Audrey Hepburn que acabei parando nessa obra, com um título forte e uma sinopse mais forte ainda, e devo dizer que até o presente momento é um dos meus filmes favoritos que assisti neste ano.

Em Infâmia (The Children's Hour)
acompanhamos duas professoras, Martha (intepretada por Shirley Maclaine ) e Karen (Audrey Hepburn) que são duas amigas que administram juntas um internato, ao ser repreendida por uma mentira, uma aluna problemática diz para a avó que as professoras mantêm um relacionamento secreto e quando o boato se espalha, a vida das professoras vira de cabeça para baixo.
Eu apenas tinha assistido as comédias do William Wyler então foi uma boa surpresa ver ele trabalhando nesse drama incrível, aqui o longa é formado de um jeito quase teatral ( o próprio roteiro se baseia em uma peça de teatro) e se sustenta pelas atuações, que aqui, sem meias palavras, são todas maravilhosas, mas entraremos nisso mais tarde.

O filme se foca muito mais na reação da sociedade pelo suposto relacionamento entre as professoras do que na mentira, elas perdem sua fonte de renda e são mal vistas na sociedade, com cenas que transita entre o triste e o repulsivo.

O filme foi feito na época do código hays, que praticamente censurava qualquer filme que saísse  um pouco dos temas conservadores, então há muito mais um uso forte de subtexto, vemos mais adjetivos para se referir ao lesbianismo, que por ser falado apenas pelos personagens preconceituosos, utiliza-se de forma mais ofensiva e odiosa, enquanto o personagem da Shirley utiliza também desses mesmos adjetivos, mas ela fala de uma forma mais confusa e triste, perante o que no futuro iríamos entender que isso se deve a ela não se sentir confortável em um bizarro e triste mundo que não a aceita.

                (Shirley MacLaine)

Como falei um pouco acima, é um filme bastante teatral, então há poucas trocas de cenários e um número reduzido de atores, então ele se sustenta pelas maravilhosas atuações, Audrey Hepburn mesmo sendo conhecido mais por comédias românticas é uma grande atriz dramática, tudo isso melhora junto com a Shirley McLaine que está também fantástica, a personagem mais trágica no filme, eu necessito ver mais dela no futuro(quem sabe em The Apartament), com certeza elas transmitem a tristeza e o amor de suas personagens, que dificilmente seria obtido por qualquer outras atrizes.
                (Audrey Hepburn)

Uma critica idiota que li sobre o longa é que ele não "explicava" o que a garota falou para a vó (mesmo que isso seja algo bastante óbvio) e de que o filme não mostrava o julgamento no tribunal, ambos argumentos bizarros, já que a proposta do longa nunca foi ser um drama jurídico ou aventura infantil.

Falando um pouco sobre o final, há algumas pessoas que dizem que o filme é um desserviço para a comunidade Lgbt, mas acredito que mesmo o final não sendo feliz, infelizmente é a realidade de muitas pessoas, daquela época e de hoje em dia, outro detalhe importante desse final é que o personagem da Audrey Hepburn apoia a amiga, mesmo que aparentemente ela não compartilhe o mesmo sentimento romântico, uma reação de empatia que o próprio filme mostra que infelizmente não é muito comum ao redor delas; e a Shirley Maclaine em seu trabalho mostra em como alguém se sente em um mundo que infelizmente não a aceita.
Muitos podem dizer que a vilã do filme é a criança que inventa sobre a mentira do relacionamento, mas quem realmente é o culpado pelo que ocorre com as garotas é o Preconceito, esse, tão pesado e grande na sociedade que de várias formas, silenciosas ou não, faz muitas vítimas.

Não dá para saber a verdadeira opinião do William Wyler sobre homosexualidade, mesmo que ele nunca tenha falado abertamente sobre o assunto é interessante ver que quando ele dirigiu a primeira adptação dessa peça, que foi em 1936 , os produtores excluíram a lesbianidade do roteiro com medo do código hays, mas parece que Wyler nunca ficou satisfeito com isso pois com esse remake ele não apenas dirigiu como também foi produtor, tirando parte de sua grana para o filme ser feito e se desviando do código hays para atingir a história que ele tanto queria, e devo falar, mais uma vez você mandou bem Wyler....


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